domingo, 9 de novembro de 2008

Lado B

Estou rodeada de grandes mulheres. Sempre soube disso, e cada vez atraio para o meu círculo (ou sinto-me atraída), mais e mais mulheres grandes, como a vida. Sábado fui com a S. distribuir a cesta básica à população mais afastada de STP (vila malange). Não falam português, não têm electricidade, canalização. Vivem num local paradisíaco para mim que tenho meio de deslocação. É verdade que não passam fome, é verdade que nota-se que as crinaças são felizes, mas é sempre um choque perceber que se alguém tem um problema de saúde ou precisa de algo que a natureza não possa providênciar, estão tramados. Mas têm a S. que se preocupa e trabalha 24 sobre 24 num espírito missionário poucas vezes vistos por estas paragens. 

Entretanto conheci a A., uma médica pediatra que resolveu vir em missão de voluntariado uns meses. Fui com ela ver o Joel. Um mês de idade, uma mãe com 16 anos. O Joel está a sufocar-se a si próprio. Tem o tubo da traqueia a fechar-se lentamente. Em portugal, 5 minutos bastavam para aliviar o sofrimento que aquele bébé pequenino e frágil está a passar. É a segunda vez que o visito, em dois dias, e está cada vez pior. Vai morrer se não for evacuado. E a A. não sabe se ele sobrevive até à evacuação (que acontece às sextas feiras). O Hospital, apesar de limpo e o mais organizado possível, não tem nada. Nem garrafas de oxigênio. A A. tem que inventar do ar soluções. Tem que salvar, acompanhar, resolver, semear esperança para que cuidados básicos, primários e fundamentais sejam prestados.
Enquanto isso, os "fat cat´s", estão-se nas tintas e se forem questionados o país fica sem S. e A.´s do mundo.
Os problemas existênciais, morais, fisiológicos e etc´s, são tão pequenos quando olhamos para o mundo tal e qual como ele é. 
Não consigo expressar o que se passa dentro de mim quando vejo o mundo tal como é. E sinto-me tão mais aconchegada quando percebo que a natureza (de alguns) humana pode ser tão extraordináriamente voluntariosa.

1 comentário:

reggynet disse...

Dava tudo para poder estar aí contigo! A sério, mesmo...
Beijos