O senhor Valéry gostava muito de café. Para o senhor Valéry trabalhar e beber café eram a mesma coisa. O seu trabalho, a partir de certa altura, era beber café.
Ele costumava dizer:
- Sem café não consigo trabalhar - e quem o ouvia julgava-o dependente dessa substância para fazer uma outra coisa.
Mas não.
O senhor Valéry explicava:
- Um corpo é tanto mais exacto quanto menos tarefas faz.
E clarificava ainda, exibindo as ideias filosóficas de que tanto se orgulhava:
- Uma causa vale menos do que um efeito e um efeito vale menos do que um acontecimento sem causa.
Por isso ele agia sem pensar nos efeitos da sua acção. Agia porque gostava da acção que fazia. E bastava-lhe.
O senhor Valéry, decidiu, então, desenhar uma chávena de café para provar a sua teoria.
Depois de acabar o desenho, ele disse para si próprio:
- Há dias em que não percebo nada de mim.
E como se encontrava confuso, o senhor Valéry decidiu ir beber um outro café.
-É uma maneira de resolver as coisas - pensava.
O Senhor Valéry, de Gonçalo M. Tavares
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Zen da Semana
Publicada por
sininho
à(s)
12/13/2007
Etiquetas: Livros
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Porque é que de repente me apeteceu urgentemente um café?!? ( pulga atrás da orelha )
E para quando um comentário político? Poderias chamar-lhe "Zenha da Semana"! E no link dos comentários porias "Tire a sua Zenha"! ( ducks and runs )
Enviar um comentário